terça-feira, 27 de maio de 2008

DE DECCA, Eric (Fichamento)

DE DECCA, Edgar. “O colonialismo como glória do império” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão et alli. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. volume I, pp. 151 a 181

Expansão
De Decca define a necessidade de expansão, com ênfase na necessidade de mercados e matérias-primas, nos seguintes termos:
“A principal característica desse processo desenfreado por ampliação de espaços era a de que a expansão dos Estados europeus tinha sido motivada por uma necessidade irrefreável de ampliação de mercados das economias competitivas do capitalismo industrial.(...) Se as fronteiras nacionais tinham sido até então a base e sustentação do edifício político do Estado, as forças avassaladoras do capitalismo industrial pressionavam para que essas fronteiras fossem rompidas e expandidas a uma dimensão sem precedentes” (pg. 155)
“Tudo o que pudesse representar abertura de novos mercados e domínio de fontes estratégicas de matérias-primas (ferro, cobre, petróleo, manganês, jazidas de diamantes etc.) passou a ser prioritário para as burguesias desses estados europeus expansionistas.” (Idem)

“Imperialismo” enquanto conceito
O autor ressalta que “Imperialismo” não é, como seria fácil imaginar a “formação de um império” já que para formar um império “seria necessário que a nação promotora desse império estendesse suas leis e suas instituições aos territórios anexados e tornasse os povos dessas regiões tão iguais em direitos quanto aqueles que vivem no território da nação mãe. Entretanto aconteceu o contrário dessa situação” (pg. 157) Ele define o imperialismo como “uma política deliberada dos estados europeus de anexação de povos e territórios com vistas à expansão dos mercados capitalistas.” (Idem) Uma política que só pôde se consolidar graças ao domínio militar e a um aparato administrativo específico.

O Imperialismo e o homem comum (europeu)
A era industrial e o Imperialismo definiram grandes mudanças não apenas nos territórios conquistados, mas também no interior dos estados conquistadores. A vida comum sofreu grandes mudanças em termos sociais, comportamentais, econômicos, mudanças que influenciaram a cultura, o consumo, os valores etc. Algumas das mais fundamentais foram o crescimento e modernização das cidades e o advento do consumo de massa. Um outro dado importante como a tecnologia não apenas incrementou a produção das fábricas, mas também a distribuição dos produtos por meio do transporte. O transporte, aliás, junto com as comunicações, também facilitaria o deslocamento do próprio homem para além de seus lugares de origem.

Literatura
O autor usa a literatura como um acervo “rico em sugestões” acerca da mente do homem do período imperialista. Enquanto alguns autores escrevem obras legitimadoras do domínio europeu no mundo, outros se posicionam criticamente, É sobre esses últimos que o autor discorre mais longamente. Em especial De Decca considera “O coração das trevas” de Joseph Conrad, como “romance síntese” da época. Em suas palavras:
“Nesse romance, a grande cidade européia é metaforizada nas selvas africanas, onde o homem civilizado, livre de todas as convenções, imbuído dos ideais de progresso, expande ilimitadamente o seu poder, levando tudo o que o rodeia à destruição e à barbárie” (pg. 167)

O socialismo
O socialismo, no espírito geral de expansão, também se pretendia universal, ainda que suas zonas de atuação na prática fossem a Europa e, em menor proporção, os EUA. Ainda que várias tendências formassem o movimento socialista a mais influente era a corrente marxista. De Decca dá ênfase espacial ao que ele define como “disputa” entre os “partidários da revolução e os do reformismo”. Ele acentua o fato de que, com a difusão das idéias socialistas, propagou-se uma idéia de progresso, de que a revolução socialista seria o próximo passo lógico na evolução humana. Bernstein coloca essa visão em disputa, ao afirmar que “ não era nada viável uma revolução nos países industrializados, acreditava que o capitalismo teria muito fôlego para agüentar crises periódicas e que o movimento socialista deveria se preparar para lutar por reformas políticas e sociais, através de alianças com outros partidos políticos” (pg. 172) De Decca afirma ainda, sobre a expansão do socialismo e sua relação com o imperialismo: “(...) o imperialismo teve que se debater com uma poderosa força política de contestação que ele próprio ajudou a propagar(...)” (pg 174)

A Belle -Époque
De Decca afirma:
“Num período onde as ambições foram imensas e os sonhos também grandiosos, do domínio imperialista ao paraíso socialista, não seria absurdo dizer que todos os outros campos da atividade humana foram também atingidos por essa espansão ilimitaa dos desejos(...)Havia a nítida sensação de que tudo estava em expansão, e as certezas fixas e mecânicas, que haviam garantido o pensamento europeu, principalmente o filosófico e o científico, durante os últimos séculos estavam em vias de desaparecer” (pg. 176)
A ciência e os novos conhecimentos, as mudanças que os acompanham, sua aceitação como emblema do progresso ou sua rejeição são fundamentais para compreender a sociedade da Belle-Époque. O progresso científico gera tanto os meios de transporte e a difusão da cultura, como para a criação da Eugenia, do racismo científico, a fotografia revoluciona a idéia de informação, as mudanças se precipitam umas sobre as outras. “Não seria absurdo afirmar que a valsa, música símbolo de Viena, tinha se transformado na composição de Ravel em uma ‘desvairada dança macabra’ (...)”

Nenhum comentário: