segunda-feira, 7 de abril de 2008

HOBSBWAM, Eric (Fichamento)

HOBSBAWM, Eric. A Revolução Centenária in “A era dos impérios”. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988.

O autor parte da idéia da comemoração de centenários (inventada no século XIX) para colocar a questão: “Qual seria o resultado de uma comparação entre o mundo dos anos 1880 e o dos anos 1780”.
O “mundo” dos anos 1880 era “genuinamente global”:
· Mapeamento e exploração mais completos do mundo.
· Maior velocidade nos transportes e na transmissão de informações
· Aumento demográfico
· Desenvolvimento da tecnologia
· Maior produção de riqueza

“Primeiro Mundo” e “Segundo Mundo”
“(...) ao abordar 1880, estamos menos diante de um mundo único do que de dois setores que combinados formam um sistema global: o desenvolvido e o defasado, o dominante e o dependente, o rico e o pobre. Mesmo esta descrição é enganosa. Enquanto o (menor) Primeiro Mundo, apesar de suas consideráveis disparidades internas era unido pela história e por ser o portador conjunto do desenvolvimento capitalista, o Segundo Mundo (muito maior) não era unido senão por suas relações com o primeiro, quer dizer, por sua dependência potencial ou real.”(pg. 33)
"A tecnologia era uma das principais causas dessa defasagem, acentuando-se não só econômica como politicamente. Um século após a Revolução Francesa, tornava-se cada vez mais evidente que os países mais pobres e atrasados podiam ser facilmente vencidos e (salvo se fossem muito grandes) conquistados, devido à inferioridade técnica de seus armamentos” (pg. 32)
No entanto, o autor enfatiza que mesmo dentro do chamado “Primeiro mundo” as disparidades são importantes:
“Assim, grandes extensões da ‘Europa’ estavam, na melhor das hipóteses, na periferia do centro do desenvolvimento econômico capitalista e da sociedade burguesa. Em alguns deles, a maioria dos habitantes vivia visivelmente num século diferente do de seus contemporâneos e governantes(...)” (pg. 35)
Segundo o autor:
“Existia claramente um modelo geral referencial das instituições e estrutura adequadas a um país ‘avançado’(...)Nesse sentido, o modelo da nação-Estado liberal constitucional, não estava confinado ao mundo ‘desenvolvido’. De fato, o maior contingente de Estados operando teoricamente segundo esse modelo(...)seria encontrado na América Latina.” (pgs. 41-2)
Assim o modelo ideal de “país moderno”, que incluía democracia, liberalismo e industrialização só era de fato atendido por alguns poucos países ‘desenvolvidos’ como Inglaterra, França, Alemanha e EUA, e excluía mesmo partes da Europa consideradas parte do “Primeiro mundo” apenas por uma questão de história e cultura comuns. Do mesmo modo a expressão “Segundo Mundo” servia não apenas para designar aqueles povos que não se encaixavam no modelo industrial liberalista, mas também os que não partilhavam da experiência cultural e histórica européia.

Tecnologia e progresso
“O que definia o século XIX era a mudança” afirma o autor. A marca da mudança estava no avanço da tecnologia e suas conseqüências, principalmente econômicas. A revolução industrial permite o incremento de maquinaria a vapor, construção de ferrovias, invenções tais como o telégrafo, turbinas, motores de combustão interna, eletricidade, automóveis etc....
Já fora dos ‘países desenvolvidos’, “a novidade, especialmente quando trazida de fora por gente da cidade e estrangeiros, era algo que perturbava velhos hábitos arraigados, mais do que algo portador de progresso” (pg. 52)
“Assim, sendo, o ‘progresso’ fora dos países avançados não era nem uma suposição plauisível, mas sobretudo um perigo e um desafio estrangeiros. Os que se beneficiavam com ele e o acolhiam favoravelmente eram as reduzidas minorias de governantes e citadinos(...)”
“O mundo estava, portanto, dividido numa parte menor, onde o ‘progresso’ nascera, e outra, muito maior, onde chegara como conquistador estrangeiro, ajudado por uma minoria de colaboradores locais” (pg.53)
A idealização do progresso e da tecnologia, gerou uma avidez crescente pelo avanço técnico e científico. Os êxitos das burguesias ocidentais e a idealização da técnica e da ciência, aliada à cientifização do discurso social levaram à constituição do darwinismo social, isto é uma racismo científico e uma naturalização das desigualdades sociais.
“A humanidade foi dividida segundo a ‘raça’, idéia que penetrou na ideologia do período quase tão profundamente como a de ‘progresso’(...) Até nos próprios países ‘desenvolvidos’, a humanidade estava cada vez mais dividida na cepa enérgica e talentosa da classe média e nas massas indolentes, condenadas à inferioridade por suas deficiências genéticas. Apelava-se à biologia para explicar a desigualdade, em particular aqueles que se sentiam destinados à superioridade.” (pg.54)
O autor termina o texto com o questionamento: aonde levava o progresso? E conclui:
“Por volta dos anos de 1870, o progresso do mundo burguês chegara a um ponto em que vozes mais céticas, ou mesmo mais pessimistas, começaram a ser ouvidas. E elas eram reforçadas pela situação em que o mundo se encontrava nos anos 1870, e que poucos haviam previsto. (...)Após uma geração de expansão sem precedentes, a economia mundial entrava em crise.” (pg. 56)

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